sábado, fevereiro 28, 2015

Fases e faces. Do Livro "Expressão da Alma". Da crônica à poesia. Márcia Kraemer.





Na arte de viver a dinâmica da vida, eis que surgem em cada vivência novos sonhos suscitando projetos. Estabelecendo os elos entre o eixo da vida e as atitudes. Que se formam pelas inúmeras fases evidenciadas nas faces eternizadas na crônica da vida.
No contar das horas, no passar dos dias, entre escolhas, erros e acertos, nos deparamos com as fases e como persona criamos os traços e os laços. Entre as fases efêmeras perduram as faces reveladoras do “eu interior”.
Assim como a lua temos fases e como persona, faces.
Reveladas nos sentimentos, emoções, anseios e desejos.
Para cada fase uma face.
Para cada face uma fase.
A vida se encarrega deste despertar. E na força das nossas vontades fica a certeza, que o grande protagonista na arte de viver é o amor. 
 Em sua magnitude nos impulsiona ao encontro de novas fases e novas faces da vida para as quais não existem definições.
Por mais que você as busque não encontrará.
É simplesmente a face do inexplicável.
Nos mistérios e segredos da vida.
 Recheada deles.  Que a torna bela. Em torno do enigmático que o mundo gira.  Na sintonia dos segredos que o universo age.
A estada aqui é inexplicável. Breve.
Com que intuito aventurarar-se em tal busca, nos caminhos das indagações, teorias, fórmulas, nas trilhas da inquietude, becos obscuros da arrogância, do orgulho e insensatez.
A face da existência está na fase de ser vivenciada e jamais desvendada.
Viver simplesmente. Saborear cada momento em sua totalidade. Experimentar o novo. Crescer.

Desfrutar a face e a fase da vida como um fruto, essência do amor, com aroma de paz, sabor indescritível, inexplicável, misterioso e enraizado nas faces do segredo.
Márcia Kraemer. (Poetisamar)

terça-feira, fevereiro 24, 2015

CRÔNICA: Latidos


                 A princípio este texto seria para reclamar sobre os insuportáveis latidos de cachorros durante a noite, mas como este fato me levou a uma interessante reflexão sobre os barulhos internos, resolvi então tirar o chapéu para os diálogos caninos que entram madrugada a dentro.
Por volta das 22hs e 30min fui me deitar, confesso que não estava com sono, e pelo visto nem os cachorros estavam, algo os incomodava, gatos talvez. Algo me incomodava também, fatos talvez.
Os latidos foram me irritando, me virava de um lado para o outro, tapei os ouvidos com o travesseiro, mas nada surtia efeito, o jeito foi ir até a cozinha e fazer um chá, a essa altura já era quase meia noite, e os cachorros não davam trégua, alguns paravam, mas tinha um que, por favor, não parava de latir um minuto. Tomei o chá, e voltei pra cama. Por um breve instante de silêncio, respirei fundo, e pensei, até que enfim vou conseguir dormir, que nada, o terror da noite deveria estar reclamando algo, agora, meus vizinhos, donos do cachorro, vão ter um sono pesado assim na China... Puxa, será que não estavam ouvindo? Ninguém mais além de mim estava se incomodando?
Por volta da uma hora da manhã me dei conta que o cachorro não latia mais, então porque ainda não adormeci? Foi aí que percebi que meus latidos internos eram mais insuportáveis que os latidos que vinham de fora. Não que eu tenha uma alma de cão... Nem sei se cão tem alma, se quando morrem vão para o paraíso ou para o inferno... Não entendo de filosofia canina. Mas, de qualquer jeito me fez refletir que, na verdade meus conflitos internos tornavam-se gemidos da alma. E quando a alma geme é porque precisa desabafar. Ela queria ser ouvida, precisava me ajudar para que fosse libertada do que estava nos afligindo. Mesmo sem encontrar uma solução imediata para estes conflitos, era preciso pensar neles, estar com eles, enfrenta-los. Eu poderia ter forçado o sono, ingerindo um comprimidinho milagroso para estas ocasiões, e calar a alma, a mente, amordaçar meus conflitos, mas chega um momento que é preciso parar para ouvir-se.
Como fugimos de nós mesmos, como nos envolvemos com outras coisas para não prestar atenção no eu, como vivemos abandonados, carentes de si mesmos. Choramos diante de uma cena triste, nos solidarizamos com vítimas de tragédias, ficamos indignados com a violência, preocupados com a economia a política, com a inflação, com o desemprego, com o time de futebol... Perceba quantos são os cães latindo a nossa volta... E quanto a nós? Que somos a parte mais importante neste cenário ficamos esquecidos... É, o INSS é um desrespeito, o salário é uma vergonha, os políticos são corruptos, os traficantes estão dominando os grandes centros, os planos de saúde são inacessíveis, os remédios são caros, os ônibus estão sempre lotados, o trânsito não agrada, as obras estão inacabadas, o tempo está louco, tempestades, tornados, vendavais, enchentes.....Meu Deus, quanta coisa nos desvia de nós. E quanto nos perdemos de nossa essência, em meio a esta parafernália mundial globalizada. Tudo parece nos desviar de nós mesmos. Vivemos sempre para fora de nós, vazios de si mesmos, e quando raras vezes nos encontramos não gostamos do que vemos... Opa está com pneuzinho aqui, uma ruga ali, celulite, e por aí vai. É latimos para nós mesmos diante do espelho que vê refletido um desconhecido.
Cabem aqui estas duas frases de grandes filósofos que se atreveram a olhar para si mesmo: “Conhece-te a ti mesmo”... “Ame a teu próximo como a ti mesmo”...
E lembre-se, até os cães lambem suas próprias patas. Eles não precisam de espelhos para saber que são cães. Não precisam de ordens para proteger sua casa. Você não precisa pedir desculpas a ele porque está de mau humor e por isso não foi dar aquela voltinha com ele na praça. Ele dispensa qualquer satisfação sobre isto ou aquilo, porque ele sim, te aceita e te ama do jeito que você é. Talvez seja por isso que os animais não falam, para que os “seres humanos” possam desenvolver sua própria inteligência.
AU...AU.

ESCRITO POR MARCIA KRAEMER
27/10/2009

MADRUGADA PENSANTE. Do livro "Expressão da Alma". Da Crônica á Poesia. Márcia Kraemer.


No percurso da vida, ano após ano, em meio a perdas e conquistas dos vários papéis desempenhados no dia a dia corrido e exaustivo, no tecer da trajetória existencial.
Somada a fragilidade humana, a mercê das guerras internas e externas, do descaso de longe e os de perto, dos soluços velados de uma eterna saudade do que não volta mais. É possível ouvir na madrugada pensante os gemidos de dor, tristes lamentos, dos quantos que sofrem sem paz, feridos e chagados no caminho do calvário, sob o peso de suas cruzes, vão levando a vida. Que vida?
Outros tantos embriagados, mergulhados em alegrias passageiras, deixam a cruz de lado, erguem o copo e brindam o momento que dela se livraram, até esquecê-la por hoje, para recolhe-lha amanhã e continuar a jornada da vida. Que vida?
Para muitos ainda é preciso algo mais forte, mais forte que a dor de viver, mais forte que olhar sua imagem tatuada de horrores e equívocos, desfigurada, disfarçada em bizarros excessos, para fugir do desconhecido que habita sua alma, do estranho que se torna em breves momentos de lucidez quando retornam a vida. Que vida?  Há quem trilhe uma busca pobre e humilhante para si mesmos no prazer carnal, o bálsamo embriagante das paixões, para sentirem-se vivas, amadas, dividindo corpos sem dono, unindo o vazio de quem paga ao vazio de quem vende para continuar a vida. Que vida?
Na madrugada pensante ouvimos ainda o barulho nas latas de lixo - a busca de restos. Restos de alguns saciando a fome de outros. Sobras da vida. Que vida?
A madrugada se espanta, com tantos sonhando ao relento. Os esquecidos da vida. Que vida?
A madrugada pensante caminha com o vento passeia nos arranha céus. Observa seus habitantes. Lá também há medo, há inquietude, há grades e guardas, para guardar a vida. Que vida?
A madrugada lamenta a escuridão que traz o medo. A madrugada chora. A madrugada ora. Espera logo o novo dia.
Para descansar em seu destino que revela tantos desatinos de milhares de vidas. Que vidas? A madrugada se despede ainda pensante, dá lugar ao dia, mas que dia? O dia de hoje, o mais relevante, o único que vale viver. Que vida?
Na madrugada pensante, vi o raiar do novo dia. De mãos dadas com o sol, eis que surge a alegria de ainda estar vivo!
 Do livro "Expressão da Alma". Da Crônica á Poesia. Márcia Kraemer.