quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Reflexões de Thomas Merton

"Para entender a alienação, temos que descobrir aonde vai sua mais profunda raiz central — e entender que esta raiz nunca desaparecerá. A alienação é inseparável da cultura, da civilização e da vida em sociedade. Não é só uma característica de ‘culturas ruins’, de civilizações ‘corruptas’ ou da sociedade urbana. Não é só um duvidoso privilégio de algumas pessoas na sociedade. A alienação começa quando a cultura me divide contra mim mesmo, me põe uma máscara, me atribui um papel que posso querer desempenhar ou não. A alienação é completa quando me identifico completamente com minha máscara, totalmente satisfeito com meu papel e convencido de que qualquer outra identidade ou papel é inconcebível. O homem que transpira sob sua máscara, cujo papel lhe dá irritações desconfortáveis e que odeia essa sua divisão, já começou a ser livre. Mas que Deus o ajude se ele apenas deseja a máscara de outro homem, só porque este não parece estar suando ou sentindo coceiras. Talvez não ele seja mais suficientemente humano para sentir coceiras. (Ou então paga um psiquiatra que o coça.)"

“ Toda guerra tem por raiz o medo; não tanto o medo que os homens têm uns dos outros, como o medo que têm de tudo. Não se trata apenas da desconfiança que nutrem uns para com os outros; não têm confiança nem em si próprios. Se não estão seguros do momento em que poderá alguém matá-los, estão ainda menos seguros da hora em que eles mesmos poderiam se matar.
Não é só nosso ódio aos outros que é perigoso, mas também, e sobretudo, o nosso ódio a nós mesmos. E esse ódio a nós mesmos é tão profundo e tão forte que não pode ser enfrentado. Pois é isso que nos faz ver nossa própria maldade nos outros e nos torna incapazes de vê-la em nós mesmos.”
“ (…) Nunca vemos a verdade essencial que nos ajudaria a iniciar a solução de nossos problemas éticos e políticos. Essa verdade é estarmos todos mais ou menos errados, estarmos todos em falta, sermos todos limitados, condicionados por nossos motivos pessoais embaralhados, nossa tendência a nos enganarmos a nós próprios, nossa avareza, farisaísmo e tendência à agressividade e à hipocrisia.
A vida consiste em aprender a viver de maneira autônoma, espontânea e fluida: para isso é preciso reconhecer quem se é – estar familiarizado e à vontade consigo mesmo. Isso significa, basicamente, aprender quem somos e o que temos para oferecer ao mundo contemporâneo; depois, aprender como tornar essa oferta válida.”
“O mundo é feito de pessoas que estão plenamente vivas nele: ou seja, de pessoas que nele podem ser elas mesmas e estabelecer relações vivas e fecundas umas com as outras.”