quarta-feira, fevereiro 24, 2010

CRÔNICA: ACHISMOS

Conceito de achismo: “prática de opinar categoricamente sobre vários assuntos, em geral sem ter autoridade em nenhum deles”.
“Quem procura acha”. Só procura quem perdeu e só encontra quem procura.
Não procuramos somente por aquilo que perdemos, mas por aquilo que ainda não temos. Não me refiro apenas a objetos, pelo contrário me refiro a encrenca dos maus entendidos.
A expressão, “Eu acho” é um perigo, agora, eu acho que a outra pessoa acha é suicídio, principalmente quando este achismo vira certeza na mente de quem acha.
A falta de clareza nas conclusões pode desencadear inúmeras situações de desconforto, seja no trabalho, entre amigos, entre casais então é um passo para a separação.
Nem sempre as pessoas interpretam nossas falas de maneira que entendam realmente o queríamos dizer. E nem sempre também, falamos com clareza, deixando no ar aquele entenda como quiser, tire suas próprias conclusões, pense o que quiser.
Olha o risco que se corre abrindo este leque de achismos em torno dos nossos relacionamentos. A clareza e a objetividade são fundamentais para organizar a própria vida e querendo ou não os outros fazem parte da nossa vida, uns de maneira mais intensa e significativa, outros nem tanto, mas isso não importa quando o assunto é comunicação.
Tem um ditado que diz “para um bom entendedor meia palavra basta”, a questão é onde estão os bons entendedores?
Sem adequar-se ao sujeito que o ouve você acabará tornando-se o único entendedor daquilo que deseja expressar. Parece tão difícil admitirmos que não entendamos bem o que o outro quis dizer. Não dói nada dizer: “Desculpe, não entendi”.
É melhor do que achar e partir para uma discussão desnecessária do tipo:
- Ah, então você acha que eu...
- Eu não quis dizer isso...
- Ah, não quis, mas disse...
- Você não entendeu...
- Pra mim chega, não quero mais falar neste assunto.
Qual era mesmo o assunto? Bem, analisando o “diálogo”, percebe-se que um ficou no achismo, sentindo-se ofendido e o outro não conseguiu expressar-se de maneira clara e objetiva, apesar de ser talvez a única maneira que conhece. Geralmente o achista ofendido é pavio curto, ou então estamos em um daqueles dias, ou naqueles dias.
Quem consegue segurar o pavio quando não está bem? O pior de tudo é quando ele acaba justamente com aquela pessoa que fez apenas uma perguntinha, e leva aquele sermão sem entender nada.
É, somos assim, vulneráveis, e apesar disso até hoje não vi em ninguém um crachá identificando o humor do dia. É evidente que em alguns casos mais graves, percebe-se de longe pela fisionomia se podemos ou não chegar perto de determinada pessoa e vice e versa. Tem dia que não dá pra disfarçar? Melhor seria nem ter saído da cama.
Não defendo as certezas fechadas na razão, muito menos na emoção. Quando se diz eu acho é porque não se tem ainda uma opinião formada, sendo assim não se pode ter certeza muito menos razão. Eu acho é apenas uma possibilidade em meio a várias que poderão surgir assim como surgirão outras possibilidades em meio as certezas e as razões.
Tenho absoluta certeza e por isso tenho razão, até que me provem o contrário, também há um grande risco nesta afirmação, o melhor seria se cada um provasse para si mesmo, por meio de uma reflexão equilibrada em torno dos próprios achismos, das próprias certezas e das próprias razões resultando em um consenso subjetivo.
O equilíbrio está na flexibilidade das atitudes e dos pensamentos. Ser flexível não significa ser uma Maria vai com as outras, o próprio equilíbrio fornece a flexibilidade necessária para prosseguir com menos quedas. O equilíbrio e o humor também são uma questão de escolha, assim como a roupa, o sapato, a bolsa, que você escolhe para sair. Se você acha que vai chover, leva sombrinha, se achar que não a deixa em casa, mas por “achar” corre o risco de se molhar ou escolhe andar sempre com a sombrinha na bolsa.
O mau humor e o bom humor são dois “bichinhos” que estão dentro de cada um de nós, e podemos escolher entre alimentar um ou outro, e sabemos muito bem quais são as preferências gastronômicas de cada um e a indigestão que o mau humor causa. Então é ou não é uma questão de escolhas?
Autora: Márcia Kraemer