quarta-feira, janeiro 20, 2010

CRÔNICA: Latidos

A princípio este texto seria para reclamar sobre os insuportáveis latidos de cachorros durante a noite, mas como este fato me levou a uma interessante reflexão sobre os barulhos internos, resolvi então tirar o chapéu para os diálogos caninos que entram madrugada a dentro.
Por volta das 22hs e 30min fui me deitar, confesso que não estava com sono, e pelo visto nem os cachorros estavam, algo os incomodava, gatos talvez. Algo me incomodava também, fatos talvez.
Os latidos foram me irritando, me virava de um lado para o outro, tapei os ouvidos com o travesseiro, mas nada surtia efeito, o jeito foi ir até a cozinha e fazer um chá, a essa altura já era quase meia noite, e os cachorros não davam trégua, alguns paravam, mas tinha um que, por favor, não parava de latir um minuto. Tomei o chá, e voltei pra cama. Por um breve instante de silêncio, respirei fundo, e pensei, até que enfim vou conseguir dormir, que nada, o terror da noite deveria estar reclamando algo, agora, meus vizinhos, donos do cachorro, vão ter um sono pesado assim na China... Puxa, será que não estavam ouvindo? Ninguém mais além de mim estava se incomodando?
Por volta da uma hora da manhã me dei conta que o cachorro não latia mais, então porque ainda não adormeci? Foi aí que percebi que meus latidos internos eram mais insuportáveis que os latidos que vinham de fora. Não que eu tenha uma alma de cão... Nem sei se cão tem alma, se quando morrem vão para o paraíso ou para o inferno... Não entendo de filosofia canina. Mas, de qualquer jeito me fez refletir que, na verdade meus conflitos internos tornavam-se gemidos da alma. E quando a alma geme é porque precisa desabafar. Ela queria ser ouvida, precisava me ajudar para que fosse libertada do que estava nos afligindo. Mesmo sem encontrar uma solução imediata para estes conflitos, era preciso pensar neles, estar com eles, enfrenta-los. Eu poderia ter forçado o sono, ingerindo um comprimidinho milagroso para estas ocasiões, e calar a alma, a mente, amordaçar meus conflitos, mas chega um momento que é preciso parar para ouvir-se.
Como fugimos de nós mesmos, como nos envolvemos com outras coisas para não prestar atenção no eu, como vivemos abandonados, carentes de si mesmos. Choramos diante de uma cena triste, nos solidarizamos com vítimas de tragédias, ficamos indignados com a violência, preocupados com a economia a política, com a inflação, com o desemprego, com o time de futebol... Perceba quantos são os cães latindo a nossa volta... E quanto a nós? Que somos a parte mais importante neste cenário ficamos esquecidos... É, o INSS é um desrespeito, o salário é uma vergonha, os políticos são corruptos, os traficantes estão dominando os grandes centros, os planos de saúde são inacessíveis, os remédios são caros, os ônibus estão sempre lotados, o trânsito não agrada, as obras estão inacabadas, o tempo está louco, tempestades, tornados, vendavais, enchentes.....Meu Deus, quanta coisa nos desvia de nós. E quanto nos perdemos de nossa essência, em meio a esta parafernália mundial globalizada. Tudo parece nos desviar de nós mesmos. Vivemos sempre para fora de nós, vazios de si mesmos, e quando raras vezes nos encontramos não gostamos do que vemos... Opa está com pneuzinho aqui, uma ruga ali, celulite, e por aí vai. É latimos para nós mesmos diante do espelho que vê refletido um desconhecido.
Cabem aqui estas duas frases de grandes filósofos que se atreveram a olhar para si mesmo: “Conhece-te a ti mesmo”... “Ame a teu próximo como a ti mesmo”...
E lembre-se, até os cães lambem suas próprias patas. Eles não precisam de espelhos para saber que são cães. Não precisam de ordens para proteger sua casa. Você não precisa pedir desculpas a ele porque está de mau humor e por isso não foi dar aquela voltinha com ele na praça. Ele dispensa qualquer satisfação sobre isto ou aquilo, porque ele sim, te aceita e te ama do jeito que você é. Talvez seja por isso que os animais não falam, para que os “seres humanos” possam desenvolver sua própria inteligência.
AU...AU.

ESCRITO POR MARCIA KRAEMER
27/10/2009

VIDA

O sonhador idealiza a vida.
O arquiteto projeta a vida.
O louco instiga a vida.
O médico salva a vida.
O pedreiro constrói a vida.
O espiritualista busca a vida.
Os sábios meditam a vida.
O pobre sobrevive à vida.
O rico esbanja a vida.
O covarde oculta a vida.
O persistente vence a vida.
O soberbo mina a vida.
O filósofo teoriza a vida.
O cientista copia a vida.
O escritor escreve a vida.
O invejoso critica a vida.
O ignorante ignora a vida.
O poeta eterniza a vida.
O cantor canta a vida.
O músico embala a vida.
O maestro rege a vida.
A mãe gesta a vida.
O pai germina a vida.
Deus semeia a vida, é o único Ser capaz de ressuscitar e suscitar a vida.
O curioso pergunta: - Quem realmente sabe viver?
A vida é uma questão de postura.
A vida é conseqüência da maneira como nos colocamos dentro dela.
Os aprendizados ocorrem do comprometimento com a vida.
Comprometer-se com a vida é inserir-se no ciclo existencial de forma universal.
A universalidade da vida está na complexidade do ser.
A complexidade do ser transcende o ciclo aparente do fadado destino embutido na teoria do conceito humano da palavra vida; “um espaço entre o nascimento e a morte”.
A vida é mais que uma simples palavra conceituada no dicionário.
A vida é uma passagem nas mãos da criatura e eternidade nas mãos do criador.
Fazer acontecer o espaço entre o nascimento e a morte consiste na evolução humana do ser e de ser.
A compreensão do processo evolutivo tridimensional: “corpo, alma e espírito” revelam a plenitude da vida.

Márcia Kraemer

domingo, janeiro 17, 2010

LIBERDADE

Não me diga o que devo fazer...
Permita-me sentir o momento certo de fazer.
Eu quero sentir o que eu quero.
Não quero mais fazer só por fazer.
Não sei exatamente quando me perdi,
Só sei que em tuas mãos , não mais estou...
Apesar de perdida ainda conto comigo
E só eu sei aonde vou.
Caminho só dentro de mim,
Quero encontrar-me dentro e fora...
Mas por hora...
Deixe-me ir,
Deixe-me ficar,
Deixe-me estar como estou!
Apenas me acompanhe,
Caminhe comigo se quizer...
Mas, não me diga o que devo fazer,
Permita-me sentir o momento certo de fazer.
Eu quero sentir o que eu quero.
Não sei ainda como fazer,
Só sei que quero da vida
O melhor que ela possa me oferecer,
As migalhas não mais me sustentam
Quero por inteiro o prazer de viver.
Por: Marcia Kraemer