I
ESTAÇÃO VAZIA
Quando pensei que havia me libertado do cárcere em que
permaneci por longos e exaustivos dias, eis que não tardou para perceber que,
em minha inocente e ingênua maturidade, havia apenas mudado de cenário. E para
qualquer lugar que eu ouse ir, ele, o cárcere, me acompanha como correntes
presas aos meus pés.
Avistei no auge da efêmera liberdade que o meu ser permanece
aprisionado na inércia do meu querer seguir.
Um querer incapaz de romper as correntes, um querer
ainda infantilizado pelos medos, frágil, inconstante. Um querer sem querer. Um ir
sem caminhar. Um existir camuflado em meio aos esconderijos e muralhas da
insensatez. Refúgios, labirintos, desvios.
Vazios!
Não! Não fujo da vida lá fora, esta desejo
ardentemente, apenas, e ainda não entendi porque fujo da vida que há em mim.
Sou eu na busca do eu que em mim se perdeu.
Como pude me negar a vida?
Caminhei comigo em meio a tantos enganos, e tão poucas
vezes me estendi a mão. Tão pouco me senti. Em raros momentos de silêncio parei
para me ouvir.
E agora? Tornei-me uma estranha em mim?
A sombra de um personagem que se esvai em suas vãs
fantasias.
Quem sou afinal?
Um vulto refletido em uma sombra indefinida.
Uma imagem embaçada em um espelho opaco. Não a reconheço.
Tornei-me uma miragem?
Os sussurros apelativos da alma estremecem meu corpo
que não reage.
Eu sei, eu sei. Eu sinto o grito por um despertar, que
ecoa, mesmo longínquo, sufocado no peito dilacerado pela angustiante perda do
eu.
Sublime eu, vagando perdido em uma estação vazia, em um
lugar desconhecido, um lugar que era eu!
Márcia Kraemer 20/07/2014