terça-feira, fevereiro 24, 2015

MADRUGADA PENSANTE. Do livro "Expressão da Alma". Da Crônica á Poesia. Márcia Kraemer.


No percurso da vida, ano após ano, em meio a perdas e conquistas dos vários papéis desempenhados no dia a dia corrido e exaustivo, no tecer da trajetória existencial.
Somada a fragilidade humana, a mercê das guerras internas e externas, do descaso de longe e os de perto, dos soluços velados de uma eterna saudade do que não volta mais. É possível ouvir na madrugada pensante os gemidos de dor, tristes lamentos, dos quantos que sofrem sem paz, feridos e chagados no caminho do calvário, sob o peso de suas cruzes, vão levando a vida. Que vida?
Outros tantos embriagados, mergulhados em alegrias passageiras, deixam a cruz de lado, erguem o copo e brindam o momento que dela se livraram, até esquecê-la por hoje, para recolhe-lha amanhã e continuar a jornada da vida. Que vida?
Para muitos ainda é preciso algo mais forte, mais forte que a dor de viver, mais forte que olhar sua imagem tatuada de horrores e equívocos, desfigurada, disfarçada em bizarros excessos, para fugir do desconhecido que habita sua alma, do estranho que se torna em breves momentos de lucidez quando retornam a vida. Que vida?  Há quem trilhe uma busca pobre e humilhante para si mesmos no prazer carnal, o bálsamo embriagante das paixões, para sentirem-se vivas, amadas, dividindo corpos sem dono, unindo o vazio de quem paga ao vazio de quem vende para continuar a vida. Que vida?
Na madrugada pensante ouvimos ainda o barulho nas latas de lixo - a busca de restos. Restos de alguns saciando a fome de outros. Sobras da vida. Que vida?
A madrugada se espanta, com tantos sonhando ao relento. Os esquecidos da vida. Que vida?
A madrugada pensante caminha com o vento passeia nos arranha céus. Observa seus habitantes. Lá também há medo, há inquietude, há grades e guardas, para guardar a vida. Que vida?
A madrugada lamenta a escuridão que traz o medo. A madrugada chora. A madrugada ora. Espera logo o novo dia.
Para descansar em seu destino que revela tantos desatinos de milhares de vidas. Que vidas? A madrugada se despede ainda pensante, dá lugar ao dia, mas que dia? O dia de hoje, o mais relevante, o único que vale viver. Que vida?
Na madrugada pensante, vi o raiar do novo dia. De mãos dadas com o sol, eis que surge a alegria de ainda estar vivo!
 Do livro "Expressão da Alma". Da Crônica á Poesia. Márcia Kraemer.

Um comentário:

Adelina disse...

Que palavras sábias!!!!!