segunda-feira, julho 21, 2014

COLÓQUIO DA ALMA.

                                                                       

                   I

         ESTAÇÃO VAZIA


Quando pensei que havia me libertado do cárcere em que permaneci por longos e exaustivos dias, eis que não tardou para perceber que, em minha inocente e ingênua maturidade, havia apenas mudado de cenário. E para qualquer lugar que eu ouse ir, ele, o cárcere, me acompanha como correntes presas aos meus pés.
Avistei no auge da efêmera liberdade que o meu ser permanece aprisionado na inércia do meu querer seguir.
Um querer incapaz de romper as correntes, um querer ainda infantilizado pelos medos, frágil, inconstante. Um querer sem querer. Um ir sem caminhar. Um existir camuflado em meio aos esconderijos e muralhas da insensatez. Refúgios, labirintos, desvios.
Vazios!
Não! Não fujo da vida lá fora, esta desejo ardentemente, apenas, e ainda não entendi porque fujo da vida que há em mim. Sou eu na busca do eu que em mim se perdeu.
Como pude me negar a vida?
Caminhei comigo em meio a tantos enganos, e tão poucas vezes me estendi a mão. Tão pouco me senti. Em raros momentos de silêncio parei para me ouvir.
E agora? Tornei-me uma estranha em mim?
A sombra de um personagem que se esvai em suas vãs fantasias.
Quem sou afinal?
Um vulto refletido em uma sombra indefinida.
Uma imagem embaçada em um espelho opaco. Não a reconheço. Tornei-me uma miragem?
Os sussurros apelativos da alma estremecem meu corpo que não reage.
Eu sei, eu sei. Eu sinto o grito por um despertar, que ecoa, mesmo longínquo, sufocado no peito dilacerado pela angustiante perda do eu.
Sublime eu, vagando perdido em uma estação vazia, em um lugar desconhecido, um lugar que era eu!

Márcia Kraemer 20/07/2014 

Um comentário:

Rodrigues Chagas disse...


Simplesmente lindo...
Nota 1000...
Parabéns.....