Há momentos na
vida em que me deparo com uma página em branco, e nem sei ao certo como
edita-la, por onde começar e o que fazer com esta página. Deixa-la em branco é
impossível, preciso preenchê-la o mais rápido possível. Mas, não de qualquer
jeito, com qualquer rabisco, como venho fazendo, precisa ser algo forte,
decisivo, real e concreto. Por um momento até cheguei a pensar que seria nesta
página que iniciaria uma nova história de vida, depois de ter deixado de lado
muitas coisas que me impediam de prosseguir.
Tentei de
várias maneiras dar início a composição desta nova fase, mas, sinto que quando
estou com a metade da página escrita puf, tudo se apaga e eis que ela ressurge
em branco. Nesses momentos, volto à estaca zero.
As dúvidas me
sufocam, não vejo luz no fim do túnel, a única certeza que tenho é que estou
usando a caneta do fingimento com a tinta do faz de conta que está tudo bem.
Estava eu tão distraída com meu faz de conta, que acabei convencendo a mim
mesma que seria uma nova fase, que as coisas mudariam pra melhor, que agora eu
havia tomado uma decisão certa.
Mas, a vida
mesmo se encarrega de dar um basta, e mostrar que não há conforto no
desconforto, não há realidade nas ilusões, não há diálogo em monólogos, não há
compreensão onde reinam interesses pessoais, não há partilha no egoísmo. Bom,
isto tudo eu sei, todos sabem.
O que preciso
é arrancar de dentro do meu ser a caneta da coragem com a tinta da realidade,
só assim conseguirei registrar nesta página em branco mais um pedaço da minha
vida, seja errando ou acertando, não importa, o importante no momento é tomar
esta atitude que venho protelando há algum tempo, tomada por um medo
inexplicável, incapaz de convencer a mim mesma que é preciso, que esta é minha
única saída. É minha única saída? Saída “do que” eu sei bem, o problema é saída
pra onde. Meu peito chega a doer neste exato momento em que me deparo com a
página em branco, é impossível controlar as lágrimas diante do pavor que me
invade em pensar que esta página poderá daqui alguns anos, estar em minhas mãos
trêmulas pela idade, contendo um único registro: o amarelado do tempo se
ajustando a meus cabelos brancos, as rugas em meu rosto, e com toda certeza as
lágrimas virão novamente compor o cenário do arrependimento de uma velhinha que
não teve coragem para escrever a página em branco.
AUTORA: Márcia
Kraemer
Nenhum comentário:
Postar um comentário