No
percurso da vida, ano após ano, em meio a perdas e conquistas dos vários papéis
desempenhados no dia a dia corrido e exaustivo, no tecer da trajetória
existencial.
Somada
a fragilidade humana, a mercê das guerras internas e externas, do descaso de
longe e os de perto, dos soluços velados de uma eterna saudade do que não volta
mais. É possível ouvir na madrugada pensante os gemidos de dor, tristes
lamentos, dos quantos que sofrem sem paz, feridos e chagados no caminho do
calvário, sob o peso de suas cruzes, vão levando a vida. Que vida?
Outros
tantos embriagados, mergulhados em alegrias passageiras, deixam a cruz de lado,
erguem o copo e brindam o momento que dela se livraram, até esquecê-la por
hoje, para recolhe-lha amanhã e continuar a jornada da vida. Que vida?
Para
muitos ainda é preciso algo mais forte, mais forte que a dor de viver, mais
forte que olhar sua imagem tatuada de horrores e equívocos, desfigurada,
disfarçada em bizarros excessos, para fugir do desconhecido que habita sua
alma, do estranho que se torna em breves momentos de lucidez quando retornam a
vida. Que vida? Há quem trilhe uma busca
pobre e humilhante para si mesmos no prazer carnal, o bálsamo embriagante das
paixões, para sentirem-se vivas, amadas, dividindo corpos sem dono, unindo o
vazio de quem paga ao vazio de quem vende para continuar a vida. Que vida?
Na
madrugada pensante ouvimos ainda o barulho nas latas de lixo - a busca de
restos. Restos de alguns saciando a fome de outros. Sobras da vida. Que vida?
A
madrugada se espanta, com tantos sonhando ao relento. Os esquecidos da vida.
Que vida?
A
madrugada pensante caminha com o vento passeia nos arranha céus. Observa seus
habitantes. Lá também há medo, há inquietude, há grades e guardas, para guardar
a vida. Que vida?
A
madrugada lamenta a escuridão que traz o medo. A madrugada chora. A madrugada
ora. Espera logo o novo dia.
Para
descansar em seu destino que revela tantos desatinos de milhares de vidas. Que
vidas? A madrugada se despede ainda pensante, dá lugar ao dia, mas que dia? O
dia de hoje, o mais relevante, o único que vale viver. Que vida?
Na
madrugada pensante, vi o raiar do novo dia. De mãos dadas com o sol, eis que
surge a alegria de ainda estar vivo!
Do livro "Expressão da Alma". Da Crônica á Poesia. Márcia Kraemer.
Um comentário:
Que palavras sábias!!!!!
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